DOÇURA
A noite fala-me doçuras.
Conta-me dos segredos dos dias,
naquela voz rouca e íntima
que a noite tem,
quando me acaricia os sentidos
distendidos pelo silêncio.
Fala-me de detalhes, quereres,
prazeres e emoção,
em frases curtas e leves
como brisas de verão,
trazendo lufadas de vida
em alegrias e risos simples,
como cânticos duma alma plena...
Ou fala-me de ventanias e tempestades,
zangas e adrenalinas de moinhos de vento,
em turbilhões infundados,
ou em chorado arrependimento...
E eu olho para a essa mata,
do outro lado da janela,
e sigo com olhos cansados
esses lamentos de um tempo
evanescente, a perder-se,
sumindo lentamente,
por entre capins ondulados
e árvores oscilando momentos.
Ou medos...
Talvez por lá sumam os medos,
e as sombras no fim das ruas
parem de eternizar problemas,
ou deixem de falar de grandes distâncias
e de longos caminhos a percorrer,
começando ali.
Talvez fique mais perto, assim,
menos visível, diluído num átimo,
um primeiro passo tímido,
a ser dado,
noturno, subterrâneo ao mundo...
( que um olhar travesso para trás
encontraria registrado na poeira,
já bem depois da ultima esquina...)
Março 2008