Reflexo

A gente corre, sustenta um porre, e vai.

A gente se anula, agente inútil, esvai-se.

Todo dia, madrugada em alerta, sonolência,

Os pés dormentes caminham o corpo para o chuveiro.

Todo aperto operário, todo desmazelo com o elo,

Quebrantada a alma, suspiro incessante.

A gente corrói as pernas, as mãos, a face.

A gente age inconsciente, somente.

A gente quer ser sonho, quer ser amanhã,

Um orvalho suavizando a dor que brota no âmago,

Que outrora era somente dançar ciranda,

Jogar dados com o destino, ser fino.

O menino olha pela janela, vê a doideira pelo vidro,

Que reflete o outro mundo.

- Mãe, as pessoas estão brincando de pega-pega?

A gente não pega, a gente não nega, a gente sonega

O direito da vida, de viver, de ser.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 19/03/2008
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