O QUE MAIS SOMOS SENÃO OS SEGREDOS QUE TEMOS?

O QUE MAIS SOMOS SENÃO OS SEGREDOS QUE TEMOS?

O que mais somos senão os segredos que temos?

Tanto bom seria se todas as funcionárias públicas fossem tão eficientes

quanto o ócio delas me parece sensual.

Um dia destes cá eu pensava que os corredores e salas

e espaços gerais de uma instituição pública

são demasiadamente vazios...

E o vento e a luz não são tão legais quanto o sexo.

Assim, veja, se fosse noticiado aos quatro ventos seria ruim,

pois mais gostoso seria se ninguém soubesse.

E não é sempre assim?

Sou o que pareço ser.

Não o seria se deixasse tudo que sinto transparecer,

tudo que penso vir à tona,

todos os meus desejos por quem, qual, quando, como...

Se eu não ponderasse o que realmente sou

Ah! Neste mundo estaria fadado a não ser ninguém!

Pois para mostrar que se é algo

é necessário pelo menos que se seja escutado.

E, neste jogo, quem tem voz é quem é algo que não se distancie do “normal”...

A partir do “normal” qualquer um pode ser o quiser; se o diz – “o que quiser”...

Mas, você pode ser o que quiser até o ponto em que lhe digam que pare.

Este ponto é o berço de todas nossas frustrações.

Não posso dizer que faço quando todos sabem

e sigo fingindo que ninguém sabe a que vim

e tenho vergonha de revelar o porquê de estar aqui!

Eu finjo não olhar você

pois você pode se achar relevante se perceber o quanto me amarro,

me amordaço pelo normal, ato minhas mãos pela linha reta e vendo-me!

Preciso manter a linha vital e contínua da nossa indiferença cotidiana;

do nosso torpor, da nossa inação de alma.

Por isso não posso deixar transparecer a verdade.

Mas ora, segundo isso, não gosto de você,

pois quero, antes que sua felicidade, o meu prazer de vê-lo no chão!..

Queria eu ser seu amigo; queria conhecê-lo.

Queria lhe ser conhecido, queria a amar...

O saber se com você me entendo ou não, eu queria.

Tanto querer eu queria e esta palavra que dizia não é do pretérito!

tem um futuro em si, potencializado pelo ar de desejo.

Desejo exercer o meu ser social, ser o que conheço dos outros que também são

Tão verdadeiros e tão si mesmos de coração.

Entretanto, tão contraditoriamente,

se considera mais social quem menos exerce a abertura às relações!

Quem recusa o quanto complexo é,

para, apenas, se encaixar em algo exteriormente considerado.

Pergunto-lhes, então, o que somos senão os segredos que temos!?