Carta a meus contemporâneos

Meus contemporâneos

morrerão sem minha poesia

e não lhes darei pesames

nem estrofe alguma,

morrerão engasgados

com minha angustia,

mas não conhecerão o motivo

nem a poesia

com a qual tento reinventar

a vida.

Meus contemporâneos

sentirão minha ausência

enquanto eu existir

e consumada minha existência

minha poesia será inutil

e escorrerá pelos ralos

e bueiros

escapará por entre os dedos

dos homens

e das mulheres

e ninguém saberá os meus porques.

Minha poesia

não interessa aos meus contemporâneos

Faço-a para um sonho

um anjo

e uma mulher

e para ninguém mais

e ela não quer ter

leitores e nem livros

muito menos marca-páginas

em seus dias de glória.

Meus contemporâneos

são todos puritanos

enganados pela falsa poesia

dos meus olhos

e para eles a poesia

do meu coração é muda

cega

surda e insensata

..como todos os meus contemporâneos.

Não quero ver meu verso

nas páginas dos livros

nem na voz dos namorados,

meu verso é pus

que tenta cicatrizar

minha existência enferma

e meus contemporaneos

só querem minha causa mortis

e ela não é poesia

e não está em mim

nem nos meus versos.

Não quero meu verso

na boca dos poetas

nem nas chamas da fogueira.

Meu verso é raiz

que me planta ao chão

e meus contemporaneos

estão sedentos,

mas meu verso só matará

a minha sede

e meus contemporaneos

nunca alcansaram o poço

de minha vida

por que não existem caminhos

e nem atalhos

e existem guardas por todos os lados

e cães que ladram

incansáveis..

Ladram versos meus

e meus contemporâneos

não entendem

e riem da agonia

desses cães

e querem sacrifica-los

-Estão loucos estes cães!

Pois assim é minha poesia

obscura e louca

para aqueles que não sabem o que se passa

dentro de mim..

Minha poesia

é para um sonho,

um anjo e

uma mulher

E não para meus contemporâneos

Odair J Alves
Enviado por Odair J Alves em 19/03/2008
Código do texto: T907852
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