CIRCADIANA

CIRCADIANA

Lílian Maial

Esse calor,

essa brasa,

essa fogueira,

que me arde inteira,

que me faz suar,

que me faz sonhar,

que tortura,

tontura,

loucura,

que não encontra par,

que não consegue parar,

que me atiça, me excita,

me imobiliza.

Esse frio na espinha,

esse gelo na barriga,

essa nevasca em mim,

que me endurece,

me emudece,

me faz tremer,

me faz temer,

que não encontra abrigo,

que não prevê perigo,

que me abala, que não me cala,

e me entala.

Essa angústia de não saber,

esse tédio de esperar,

essa promessa do que não vem,

que recomeça a cada novo dia,

não tem nome, nem rosto,

não sabe o resto das horas,

não conhece os gestos e a demora,

mas é tão intensa e verdadeira,

é tão profunda e traiçoeira,

que me impede de saber quem sou.

Na mudança das estações,

sou dia e noite,

número e ponteiro,

deitada por sobre o tempo.

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