A SECA COMO RECOMPENSA
O cheiro da poeira
quando a chuva chega,
o fim da greve seca
que o céu impõe.
No sertão ou não
se comemora com alívio
o fim de uma época violenta
que racha solos e peles.
Nuvens que parecem agradáveis
durante todo o dia,
esperança de matar a sede.
O espanto da criança perdida
em poças d'água.
O falso medo
de tomar banho na rua,
o desejo infinito
de que pudesse ser sempre assim.
A voz embriagada
de alegria.
O verde torna a vida mais bela.
O vento logo leva a água pra longe,
nos devolvendo os dias quentes
em que as chamas não se atrasam
no fogo que não queima pecados.
Linhas difíceis no solo,
Brilho errante no céu.