Sonhar e derrubar as nossas Bastilhas.

São 04:00 da manhã.

Perdi o sono.

Veio à mente meus sonhos de menino.

Quando pequeno, com 15 anos, sentado na escada

De minha casinha,

Um sobradinho pequeno

No meu Cachoeiro do Itapemirim,

Sonhava com a minha mais nova aquisição.

Uma Playboi de tirar o fôlego.

Os hormônios e as espinhas em festas.

Uma pausa para reflexão no banheiro.

Sonhos e suor, um brazeiro.

Depois, aliviado, cansado,

Voltava a sonhar na escada.

O que eu seria aos 40 anos,

Como estaria no ano 2000.

Imaginava-me astronauta.

Sonhava com a APOLO XI.

Isso antes de a vida me colocar antolhos, limites,

Rir dos meus sonhos,

Tentar me colocar cangas e freios.

Depois, uma luta constante, já adulto,

Para me livrar desses entraves

Na busca pela lucidez.

A consciência da vida, da vida real,

Das regras do jogo,

Se conquista com a queda de uma Bastilha.

Da nossa Bastilha

Da derrubada do Antigo Regime

Que nos oprime quase sempre.

Um Antigo Regime amor frustrado

Um Antigo Regime profissão frustrada

Um Antigo Regime seja qual for.

Aquele que não escolhemos.

Foi imposto severamente.

Um regime naftalina opressor demais.

Projetava e vida e sonhava...sonhava.

Lia a vida dos poetas, dos músicos, dos filósofos

Drumond, Bandeira, Alencar, Assis,

Na calçada, à noitinha,

A turma se reunia

Para me ver sonhar.

Devorava a Conhecer

E me pediam: fala Zé sobre Antares, as galáxias, as estrelas.

Crianças como eu e adultos também

Reclinados na calçada

Olhando o céu infinito do interior

Eu sonhava falando;

Eles sonhavam ouvindo.

Sonhávamos...sonhávamos.

Hoje, aos 43, estou bem.

Fiz Direito.

Gosto do que faço.

Antes fizera um curso incompleto de letras.

Amava o que fazia.

Hoje, luto ainda

Contra os antolhos da vida

Um pouco mais oxigendado

Porque encontrei esse espaço

Dividindo com vocês

Estes sonhos de menino...

Voltei a ler mais literatura...

Reduzi a leitura técnica.

E você vem derrubando as suas Bastilhas?

Observação: Quem me ajudou, foi minha bússula e deu-me o azimute correto foi Rosane Coelho, poetisa de grande quilate.

Um abraço para todos.

jose antonio CALLEGARI
Enviado por jose antonio CALLEGARI em 26/12/2005
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