PONTES E MARGENS
Para alguns, abismar-se é só um modo de se sentir vivo...
PONTE CAÍDA
(CARLOS RODOLFO STOPA)
Ah, quem dera o meu caminhar
Não trilhasse tantas e errosas estradas,
Daquelas que terminam no desconsolo,
No desamparo duma ponte caída!
Nos dois lados - dois mundos - desunidos,
O mato tomou conta dos barrancos,
Os barrotes de madeira estão apodrecidos,
As pedras foram cobertas de limo.
E no chão duro da estrada de pedra, despontam,
Intactos, os cones ocres dos formigueiros!
Perplexo, lamentoso dos vários atalhos
Que me trouxeram até à borda deste barranco,
Deixo-me ficar assim, parado à beira da estrada,
Demorando o olhar na impossível travessia do abismo.
Insubmissa, a vista anseia ir além do poder das pernas,
Mas desaba, derreia-se no espectáculo da ponte caída!
Retrocedo... e vejo:
De um ramo vingado entre as pedras
Pendem algumas carnudas pitangas,
A rubra maciez da doce polpa
É uma amenidade que me consola
E me lembra que em algum ponto,
Deverá existir um vau para a travessia;
Torno a escolher um caminho e vou!
(Estar vivo é apenas um caminhar - sem adjectivos! Agir sempre, mas sem esperanças!)
Em contraponto:
MARGENS SEM ASAS
(Tera Sá)
Ah, quem dera o meu descobrir
Não vislumbrasse brilhos esquivos,
Daqueles que nos fazem sentir
A opacidade da nossa margem!
No meu lado, mato inculto,
Cresce o medo em descaminhos,
Uivam canaviais em tumulto,
Praguejam ventos daninhos!
No lado de lá o sonho
Ao alcance do sentimento,
Um jardim que não transponho
Porque me foge com o vento!
Encho o meu olhar da cor
Dos lírios que me acenam,
Em vozes doces, de odor
A frutos que se invejam...
Tão perto me parecem ser,
Tão cheios de encanto e vida!
Que parecem engrandecer
A aridez da ravina!
Ah, quem me dera não ver
A outra margem do rio!
Quem me dera não verter
As lágrimas que são seu fio!
À beira do precipício,
Órfã de pontes e asas,
Navego cores em solstício
Em mares que me extravasas...
Mas, se por instantes apenas,
Meus olhos em mim repousam,
Mais vis me parecem as penas
Das asas que voar não ousam!