A Dúvida

Que faço agora

com este sangue todo

que meu peito chorou?

Quem chamo nesta hora,

a quem peço socorro,

enquanto afundam

os destroços

de meu sonho

naufragado?

Onde irei — pois irei embora!

— não sei, nem faço idéia

muito embora meu desejo

fosse partir como teu beijo

para além do nunca mais.

Quanto ainda vai doer?

Quantos dias, quantas vidas

terei ainda nas retinas

este triste entardecer?

Como irei sobreviver

tão mutilado desse jeito

amputado de teu leito

de teus carinhos

teu bem-querer?

Por que não morrem somente

meus dedos

minhas rimas

de tristes enredos

que nascem dos meus dissabores?

Para que tantas obras-primas

se não se está com seus amores?