ECOS E SILENCIOS
Que não me expliquem, as palavras !
Nem os ecos, reverberando nos espaços das ruelas
onde grito insanidades, em profunda solidão.
Assim me defendo, e aos outros, e ao mundo,
dessa dor fina de testemunhar uma limpeza de alma,
um descarrego, exorcismo, faxina, negação.
Que não me expliquem, essas palavras
com que me purifico, renovo, refaço,
em tantas sílabas desabafadas assim,
em sabores de renascimento.
Que não me expliquem, também
essas outras palavras que calo por querer,
em indigestões de vontade férrea,
apenas por achar melhor retê-las,
confiná-las aos rumos do possível,
antes que se agigantem além de mim,
ou que me expliquem ao mundo
em vagas fragilidades quotidianas,
e menor do que eu sou
- como se fosse apenas mais um,
qual fantasma escondido na neblina dos dias,
querendo jamais ser visto.
Que não me expliquem essas palavras
dum futuro ainda por escrever,
mesmo que vagas, mesmo que diferentes.
( Serão só palavras, escolhas feitas com cuidado,
pedaços de mim alinhados num qualquer papel,
ou empenhados numa qualquer intenção,
apenas passos noutros caminhos,
apenas vários sopros dum mesmo destino...)
Que não me expliquem nenhumas palavras.
Que não me expliquem os silêncios.
Que nada me explique, a não ser a vida...