Cadê tu, poeta?
O poeta rasteja, arfando um lampejo, um beijo.
O poeta descobre o amargor caindo em sua armadilha
E vai sobejo, trivial, rumorejando um desejo.
Cadê a rima, a linha tenaz que traças, oh poeta?
Cadê teu sonho, tua libido pela vida tão vadia?
O poeta, cabisbaixo, sucumbe inaudível
Calando, calando, calando...
Suas mãos, trêmulas, fraquejam
Não há arpejo, nem dor, nem coração...
Não há o tamborilar ressoando na canção,
Não há vontade, nem esmorecimento.
O poeta está morto, caiu no labirinto das mãos alheias,
Caiu sobre o sangue de suas vontades,
E fana as lágrimas
De suas lutas, vestindo luto.
Foi tragado pela sequidão, pelo desprazer que as amarras lhe trazem.
O poeta já não é mais poema, não mais poesia,
Não mais dilema, não mais azia.
O poeta perdeu a palavra, inundou-se em lavras de fogo,
Que roga em prece, que tece sem pressa.
O poeta perdeu o tom, esqueceu o dom, a lepidez,
Desfez o domínio de si, se fez areia e vento.
Poeta, poeta. Subjugue tua sensatez, tua coragem e sofra.
O poeta é desvario, perdeu-se no estio e foi-se embora.