Cadê tu, poeta?

O poeta rasteja, arfando um lampejo, um beijo.

O poeta descobre o amargor caindo em sua armadilha

E vai sobejo, trivial, rumorejando um desejo.

Cadê a rima, a linha tenaz que traças, oh poeta?

Cadê teu sonho, tua libido pela vida tão vadia?

O poeta, cabisbaixo, sucumbe inaudível

Calando, calando, calando...

Suas mãos, trêmulas, fraquejam

Não há arpejo, nem dor, nem coração...

Não há o tamborilar ressoando na canção,

Não há vontade, nem esmorecimento.

O poeta está morto, caiu no labirinto das mãos alheias,

Caiu sobre o sangue de suas vontades,

E fana as lágrimas

De suas lutas, vestindo luto.

Foi tragado pela sequidão, pelo desprazer que as amarras lhe trazem.

O poeta já não é mais poema, não mais poesia,

Não mais dilema, não mais azia.

O poeta perdeu a palavra, inundou-se em lavras de fogo,

Que roga em prece, que tece sem pressa.

O poeta perdeu o tom, esqueceu o dom, a lepidez,

Desfez o domínio de si, se fez areia e vento.

Poeta, poeta. Subjugue tua sensatez, tua coragem e sofra.

O poeta é desvario, perdeu-se no estio e foi-se embora.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 15/03/2008
Código do texto: T902554