Eu Chovo

Se sou água

(quase todo)

por fora

e nuvem passageira

por dentro,

então às vezes gelo

feito cubinho

de geladeira

ou evaporo

feito rubinho

em frigideira.

E fervo

— ebulo mesmo! —

tal gota

no escaldante deserto

jogada a esmo.

E escorro

líquido,

decerto,

alimentado

pelas nuvens

feito agitado

Rio Rubens.

Mas se o Sol ardente

no ar quente

me eleva

leve de novo,

revivendo o ciclo

eterno

(remorrendo, me removo

deste inferno...)

então de novo

me resfrio,

pois o Céu

longe de ti

é frio,

é inverno,

e me chovo

em novo rio.

Só para banhar

teu solo

e fecundar teu colo.

Me chovo

em lágrimas

de saudades liquefeitas

me chovo

em sêmen

de esperanças refeitas.

Me chovo,

me chovo sim,

pois é tudo

água de amor

dentro de mim.