Pais
Ser pai não se aprende.
Filhos, são o Saber que se compreende.
De repente, tornamo-nos sábios
e viajamos sem bussolas nem astrolábios.
Povoamos Olimpos particulares,
amamos como aos deuses Tutelares
e protegemos como Titãs dos Sete Mares
as crias que criamos. Valentes como Ares.
É o filho. É a filha.
Doces sensações de se ter uma trilha.
De ser, para alguém, aquele que brilha.
E tantos são os Pais . . .
Há o pai do filho doente,
o qual (e só ele) deve ter um tratamento urgente.
O pai do filho que morreu
e que carrega a dor sem tamanho.
O pai da filha que nunca se moveu
e que faz do sofrer um orgulho estranho.
O pai do filho drogado. O do filho preso,
a quem visita aos Domingos e satisfaz qualquer desejo.
O pai de pouco, ou nenhum, dinheiro
e que, ainda assim, sonha com o filho Drº Engenheiro.
Algum pai em algum lugar esquecido
e que guarda um pedaço do manto dividido.
Pais, como José, que nos Testamentos são pouco lembrados
e nem nos ritos são celebrados.
Pais que por falta de ventre, amam à distância.
Como eu e a minha circunstância*.
*Cf. Ortega y Gasset