Cidadã do Medo e da Solidão

Cidadã da Babilônia de Solidão

Navega entre ofertas,

pesquisa preços, mantém contato com vendedores,

é cliente antiga de muitos neo mercadores.

Compra tudo que precisa e tudo quanto é besteira

coisas de todos os valores.

Mais não é mulher gastadeira.

Cria rios de ofertas, negocia preços e fecha sempre bons negócios.

É empresária, é jovem, é linda e bem sucedida.

Estuda estratégias, lê muito, malha e fica pouco tempo no ócio.

No entanto não tem admiradores,

amigos, amantes ou amores.

Arrebata olhares de Venscesláu, noventa e cinco anos, porém exímio jardineiro.

Robin, como prefere ser chamado, é atento caseiro e delicado cozinheiro. Ele sempre a admira e contempla. Em comum com a patroa a juventude, a educação, a beleza e a atração por homens. A faxineira é a lavadeira que é viúva beata.

De vez em quando vê os vultos na guarita. Vultos que assistem a transmissões de muros e portão. Esses garantem a maior de suas ilusões.

A vizinhança é só gente de classe,

está atrás de muros altos com cercas elétricas e vigias sem face.

Não tem crianças brincando na rua.

Pela janela apenas belos carros blindados com vidros sufilmados

refletem a máscara que a poluição cede ao sol e a lua.

Ela esta entediada,

sente falta de cultivar amigos;

mais falta ainda de ser desejada.

Contudo, ainda prefere viver acoitada;

não freqüenta clube, teatros, cinemas,

lojas e muito menos cai nas noitadas.

Dois anos é pouco pra esquecer:

Roubada, seqüestrada,

espancada e violentada,

um inferno exagerado

com início na saída de um belo shopping.

Uma princesa dominada

em sua segura carruagem encantada.

Foi logo ali! Menos de sete quadras...

Agora vive conectada, trancada , sozinha e calada.