CABEÇA DE MULHER NA PIA
Natureza morta, urbana, de aparência tal
que a história natural das coisas faz sombria,
debulho terno a ti, cabeça úmida e fria,
e entrego aos teus cuidados o canto invernal
Que o mal em si não é mal, é a forma que escolhemos
para escorrer as dores em lenta sangria.
Estranho a tudo, em meio a esta fotografia,
percebo, morna e calma, a vida que não temos.
E enfim será por certo a pátria tão sonhada
de quem vislumbra em ti mistério e fantasia.
Delírio vergastando o rosto, e essa elegia
com amargo gosto e sonho a ti vai dedicada.
Se alguém te viu assim e cuidou que sentia
o horror da carne em violenta vertigem,
imobilizas, pois, tão reticente e virgem,
e apanhas em "close" essa visão vazia.