CABEÇA DE MULHER NA PIA

Natureza morta, urbana, de aparência tal

que a história natural das coisas faz sombria,

debulho terno a ti, cabeça úmida e fria,

e entrego aos teus cuidados o canto invernal

Que o mal em si não é mal, é a forma que escolhemos

para escorrer as dores em lenta sangria.

Estranho a tudo, em meio a esta fotografia,

percebo, morna e calma, a vida que não temos.

E enfim será por certo a pátria tão sonhada

de quem vislumbra em ti mistério e fantasia.

Delírio vergastando o rosto, e essa elegia

com amargo gosto e sonho a ti vai dedicada.

Se alguém te viu assim e cuidou que sentia

o horror da carne em violenta vertigem,

imobilizas, pois, tão reticente e virgem,

e apanhas em "close" essa visão vazia.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 10/03/2008
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