Filho Da Lua

Tênue luz iluminando caminhos estreitos

Por entre árvores que balançam no ar

Pequeno riacho canta em seu leito

A mesma canção em todo luar.

Leve brisa passeia por entre casas e tocas

Sussurrando aos homens e aos animais

Que é hora de trancar a porta

De criança dormir e sonhar em paz.

Doze badaladas anunciam a justiça

A floresta em seu seio a todos recebe

Dos homens que vão aos domingos à missa

Ao Filho da Lua, que de Deus se esquece

Gritos na noite quebram a monotonia

Infligindo medo aos pecadores

Uivos tristes a todos anuncia

A chegada da Lua, seu brilho, seus horrores!

Campos e vales são testemunha

A terra tem em si confirmação

Duas pegadas o Sol ilumina,

Quatro pegadas na escuridão.

Espessa neblina no campo se espalha

Encobrindo a floresta e seu esplendor

Gélida, triste, envolvente mortalha

Vestindo de branco o que é negro de cor

Audaciosos caçadores o temem

Poucos voltaram para contar

A seus filhos falam e mentem

- são lendas bobas para assustar -

Entre as nuvens se esconde o próprio Criador

Ante a blasfêmia a ele proferida

Envergonha-se de haver tamanha dor

Treme ante a natureza ferida...

Renegando a paternidade que é sua

Diz desconhecer a própria Lua

Sete filhos homens só um herdará

Do útero materno sua sina trará

Do berço ao túmulo dividindo uma vida que não é sua

A herança maldita de ser o Filho da Lua!

André da Costa
Enviado por André da Costa em 22/12/2005
Código do texto: T89552