RÚSTICA PEDRA

Nos balbucios do medo

eu falei para mim

talvez a masmorra seja santa

(que diga Oliveira e Silva

que em sua masmorra

encerra o último estágio de dor

“a mera compreensão do ser,

do existir na forma corpórea

limpa, seca, intrínseca e vil”)

nos balbucios de solidão

vejo filhos da inconfidência

mas nada me convence

penso sempre que a pedra

seja a melhor educadora

a pedra inerte de Raul Seixas

a rústica pedra cabralina*

a foice nordestina de corte frio

da seca em sua profecia de fé

dos uivos inquietantes de tantos augustos**

nos balbucios de morte

penso na masmorra

como clausuro de espírito

(e o que somos... ?

se não meros clausuros

simples massa corpórea

de um espírito são)

penso na teologia como vida

na loucura como salvação

na masmorra como liberdade

na poesia como expressão:

expressão limpa, virgem e colorida.

* Em referência a João Cabral de Melo Neto.

** Em referência a Augusto dos Anjos.

Ozimar Júnior
Enviado por Ozimar Júnior em 22/12/2005
Reeditado em 26/07/2008
Código do texto: T89483