Do Mar e das Graças
Imensidão azul em mim
Tanto sonho sem fim
e a vida que não era circular
pedia uma rota como uma via Ápia
romana e reta rumo a conquista.
Com olhos seculares e atônitos segui.
Flertei com os prodigiosos, deitei flores aos falecidos.
Sonhei com os mais amados, os não nascidos
e a mesma angústia do que tardava em ser
deu-me o frêmito de um outro amanhecer.
Filhos, fiz muitos
que espalharam-se em tempos idos.
Quando os pus no colo, já tinham crescido e partido
e assim, sem fontes nem norte
a vida me deu a sorte de gerar poemas.
Topei com toda gente que abarca a poesia,
o beijo, o choque e tudo é tão pouco...
e contudo, vi bênçãos, graças infindas de Marias.
A mim, não me faltou renúncia. Me despojei
mas fui cega de amor por um sempre ainda.
...E de tudo que vem e passa
ficou uma criança chamada Devir.
Através dos olhos dela
toda beleza desse mundo e de outros, eu vi.
Minha nau leme e lume luzindo ladina.
Vejo-a em versos benditos, rasgados, silenciados.
Vejo-a em mim em ti e o passado se agiganta.
Nós dois meninos caminhando no cais.
Ouço tua voz:
“Vamos ganhar o mundo. Agora, somos nós.”
Nós, nós...ecoa na praia noturna.
Nós que por fim, desatam- se
e resta uma nostalgia de partida
o olho pregado no horizonte em despedida
e declamamos “Farewell e os Soluços”.
Resta um sonho suspenso...guindado no ar.
Uma paisagem atlântica entre quilhas e guindastes
Um desvario romântico, um "não sei que" estrangeiro.
Coisas de quem nasce nessas bandas
entre cargas, imigrantes e navios.
Da reta - ancestral passado
à curva que se fecha na baía
desnudo-a e a mim, decanto seus azuis
e sem velas sem mastro sem tempo
Repatrio-me em minha'lma porto firmamento.
*antiga foto das docas de Santos, minha cidade.