O MEMORÁVEL E INESPERADO ENCONTRO, ONDE, UM CONTISTA E UM POETA – INEXPLICAVELMENTE – RESOLVERAM FALAR PELOS COTOVELOS

Como vai, amigo poeta?

Bom dia, contista primeiro.

Se a memória não me trai, há dez anos não o vejo!...

Pobre da minha, desenganada. Foi numa mesa de lar?...

Brindávamos tudo a cerveja!...

Agenor ainda vivia...

Vivia, estupidamente.

Marileuza, muito donzela.

E por falar nela, por onde será que ela anda?...

Em São Paulo. Casadíssima!...

Coitada. Vida amarela.

Marquinho Papa-Fina já dizia – há muito – da sina dela.

Eta moleque retado!

Deu pra beber, num zás-trás

Ainda bem que não deu pra viado!

Cansou da vida. Tentou suicídio. Inúmeros. Vários!

Pobre dos que pensam que a razão de viver tem nome de mulher.

O Dr. Sergio o está a tratar.

Serginho?...O Serginho Mão-de-Onça?!...

Virou terapeuta o cu-de-ferro.

Um goleirão e tanto!

Nelsinho Trenêro que o diga.

Grande Nelsinho! Sabia tudo de bola.

E como! Morreu?

É, sim... sim, é... é, sim....

Do quê?

Falência múltipla dos órgãos. .

Ah, a maldita!

Enterro lindo. O mais belo minuto de silêncio que já ouvi!

Conta!

Não dá. A voz trava.

Economiza!...

A voz ou a idade?

Prefere chupar caju ou limão?

Saudade.

Já vi tudo, é idade!

Zuzinha ainda tem as coxas grossas?

Zuzinha, Zuzinha... qual Zuzinha?

Aquela sua prima tarada.

Continua de coxas grossas, não sei se ainda tarada.

Saudade, saudade, saudade!

Do quê?

Das punhetas gloriosas no Cine Jandaia!

As mulheres, agora, andam nuas.

O mundo virou uma grande bosta, não é verdade?

Mundo.. cidades... .

Virou bobo ou é idade?

Não há mais crônicas da Raquel; sequer há mais “O Cruzeiro”!...

É verdade.

O Amigo da Onça do Péricles... .

Saudosista!

E daí?

Os dias andam na velocidade do Concorde..

Casou e separou?

Tô de encontro marcado. Juro, não fui pedido em casamento!

Felizardo!.

Filhos?

Um.

Só um?!

Vou pegá-lo agora, na porta da escola.

Agora?

Já.

É... está tarde.

Volta?

Com um conto novo sob os braços.

Eu, com inverossímeis poemas. .

Boa tarde, amigo poeta.

Boa noite, contista primeiro.