O vento
O VENTO
Que diz , para mim,
como num lamento, o vento?
"Eu vim de longe,
e o meu cansaço
diminuiu o passo
de quem percorreu
o mundo todo.
Por tanto recanto
Andei, e não te encontrei",
continua o vento.
"Em que gruta te escondes,
qual o pranto que choras,
e onde a confiança pondes,
criança mansa,
mas desconfiada?
Segreda ao vento
teu amor escondido,
tua farsa esparsa
e tua alma espúria".
O vento pára e escuta,
procurando ouvir quem o pergunta.
E, nesse momento,
fruto do sofrimento,
a calmaria se faz.
Não há mais nada
para enfunar a vela.
A embarcação imobilizada,
estancada no meio do mar,
não volta jamais ao cais.
Morrem, à míngua,
os passageiros errantes,
e os abandonados amantes.
O vento morreu
e a imobilidade do mundo
aguça, ainda mais,
a curiosidade
da pergunta
que pairou no ar,
para todo o sempre.