O vento

O VENTO

Que diz , para mim,

como num lamento, o vento?

"Eu vim de longe,

e o meu cansaço

diminuiu o passo

de quem percorreu

o mundo todo.

Por tanto recanto

Andei, e não te encontrei",

continua o vento.

"Em que gruta te escondes,

qual o pranto que choras,

e onde a confiança pondes,

criança mansa,

mas desconfiada?

Segreda ao vento

teu amor escondido,

tua farsa esparsa

e tua alma espúria".

O vento pára e escuta,

procurando ouvir quem o pergunta.

E, nesse momento,

fruto do sofrimento,

a calmaria se faz.

Não há mais nada

para enfunar a vela.

A embarcação imobilizada,

estancada no meio do mar,

não volta jamais ao cais.

Morrem, à míngua,

os passageiros errantes,

e os abandonados amantes.

O vento morreu

e a imobilidade do mundo

aguça, ainda mais,

a curiosidade

da pergunta

que pairou no ar,

para todo o sempre.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 06/03/2008
Código do texto: T889523
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