EM MIM NÃO HÁ VERÃO
©Lílian Maial
Lembro do tempo em que inventava formas para a lua, piscares e olhares semi-cerrados.
Hoje as madrugadas são foscas e frias, mesmo no abafado calor que faz lá fora.
Esqueci de destilar sorrisos, encantos e sentidos, e já não sei como se diz algumas coisas.
Os ouvidos vagueiam na ilusão de escutar frases perdidas em alguma esquina, quem sabe em algum domingo, ou em noites de abraços e aconchegos.
As palavras escondem as mentiras das promessas. Coisa séria promessa. Coisa triste também.
Depois de tanto e de tantos sonhos, ter de optar entre o prozac e a absoluta falta de propósito de escrever poemas.
Faz calor, muito calor. E o sol já não me colore ou aquece, mas abafa, incomoda, faz escorrer esse suor salgado e pegajoso.
Estou grávida de silêncios, seca de não ter respostas.
Sinto o peso das noites e o cansaço de dias anêmicos.
Permito que me troveje o peito, inerte, sem reação.
Não sei onde coloquei a bússola do olhar.
Perdi-me de mim e de mim mesma, assim, do nada, cansada de travar batalhas com o espanto.
Amputaram as pernas dos meus versos, que se arrastam nessa estranha trilha para lugar nenhum.
As noites de verão me salpicam de saudade, e a madrugada resseca e estanca os fluidos que outrora me inundavam.
A Lua já não me rege, nem me conta segredos de euforia, me enterrando num sepulcro de sombras.
Amanheceu, e nem me dei conta.
Não são mais para mim que os pássaros cantam,
Não há mais ninhos nas minhas árvores,
Nem verdade nos sorrisos que planto.
Tento inventar mentiras de alegria,
Caiar no rosto as tintas de recomeço,
Abrir as asas e arriscar um vôo,
Como quando, qual Ícaro, buscava o sol.
Hoje as estações me passam indiferentes,
e a graça das alvoradas, com prenúncio de vitória, ficaram lá atrás,
ofuscadas pela triste conclusão de que mudei de pele,
de voz, de cheiro, e apenas agradeço por mais uma lágrima.
Houve um tempo em que saía na chuva e me fartava de gotas, me encharcava de pingos, me deliciava de arrepios,
Mas agora só me chegam barro e sal,
Terra seca e empoeirada,
E meu nome se perdeu no vento,
No tempo e na lembrança vaga de dias felizes,
Já comprometida pelo esquecimento das demências seletivas,
Aquelas em que se esquece o que deixou de importar,
Ou o que não sabe mais sangrar.
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©Lílian Maial
Lembro do tempo em que inventava formas para a lua, piscares e olhares semi-cerrados.
Hoje as madrugadas são foscas e frias, mesmo no abafado calor que faz lá fora.
Esqueci de destilar sorrisos, encantos e sentidos, e já não sei como se diz algumas coisas.
Os ouvidos vagueiam na ilusão de escutar frases perdidas em alguma esquina, quem sabe em algum domingo, ou em noites de abraços e aconchegos.
As palavras escondem as mentiras das promessas. Coisa séria promessa. Coisa triste também.
Depois de tanto e de tantos sonhos, ter de optar entre o prozac e a absoluta falta de propósito de escrever poemas.
Faz calor, muito calor. E o sol já não me colore ou aquece, mas abafa, incomoda, faz escorrer esse suor salgado e pegajoso.
Estou grávida de silêncios, seca de não ter respostas.
Sinto o peso das noites e o cansaço de dias anêmicos.
Permito que me troveje o peito, inerte, sem reação.
Não sei onde coloquei a bússola do olhar.
Perdi-me de mim e de mim mesma, assim, do nada, cansada de travar batalhas com o espanto.
Amputaram as pernas dos meus versos, que se arrastam nessa estranha trilha para lugar nenhum.
As noites de verão me salpicam de saudade, e a madrugada resseca e estanca os fluidos que outrora me inundavam.
A Lua já não me rege, nem me conta segredos de euforia, me enterrando num sepulcro de sombras.
Amanheceu, e nem me dei conta.
Não são mais para mim que os pássaros cantam,
Não há mais ninhos nas minhas árvores,
Nem verdade nos sorrisos que planto.
Tento inventar mentiras de alegria,
Caiar no rosto as tintas de recomeço,
Abrir as asas e arriscar um vôo,
Como quando, qual Ícaro, buscava o sol.
Hoje as estações me passam indiferentes,
e a graça das alvoradas, com prenúncio de vitória, ficaram lá atrás,
ofuscadas pela triste conclusão de que mudei de pele,
de voz, de cheiro, e apenas agradeço por mais uma lágrima.
Houve um tempo em que saía na chuva e me fartava de gotas, me encharcava de pingos, me deliciava de arrepios,
Mas agora só me chegam barro e sal,
Terra seca e empoeirada,
E meu nome se perdeu no vento,
No tempo e na lembrança vaga de dias felizes,
Já comprometida pelo esquecimento das demências seletivas,
Aquelas em que se esquece o que deixou de importar,
Ou o que não sabe mais sangrar.
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