A Boneca de Pano

Vestido de pano

Tecido remendado

Olhar quase humano

Num brinquedo esfarrapado

Quantas alegrias

De um tempo que passou

Alimentando as fantasias

De quem hoje a abandonou

Ninguém dá atenção

A uma boneca suja e remendada

Jogada em um cesto no chão

A ser vendida, ou mesmo dada

Quem se lembra da sua beleza

Por baixo da maquiagem de pó

Antes, chamada de Princesa

Hoje, feia de dar dó

Pobre boneca esquecida

Quantas alegrias trouxe

Abraçada junto ao peito, querida,

Amada como se filha fosse

Agora, órfã da ingratidão

De quem um dia a amara

Sem o afago de nenhuma mão

Sem a "mãe" a que toda noite beijara,

Vive a chorar...

Saudades num peito de pano imundo

Preferia ser jogada ao mar

A ser lixo largado no mundo

Bazar de antigas recordações

Muitas vitórias, alguns deslizes...

Tocam o fonógrafo antigas canções

Revivendo a ventura em tempos felizes

Em meio à tristeza que a consumia

Surge a esperança de uma mão estendida

Erguida do cesto com muita alegria

A triste boneca fora vendida!

Uma menina pobre, humilde, de cor,

Mas a única que em seus olhos lia

A mesma história de dor

Que o destino ali reunia

Tratada com desdém junto ao povo

Cujos pais há muito não via

O velho lhe parece ser novo

No abraço de amor que sentia

Um coração bate no peito

Feliz... ano após ano!

Abraçada a ti junto ao leito

Bate um coração de pano

André da Costa
Enviado por André da Costa em 20/12/2005
Código do texto: T88796