Yorkshire Ball Room

São sempre dois pra lá e dois prá cá.

Invariavelmente. Obsessivamente.

E os pés estão tão acostumados

com esse ritmo imutável,

que dançam automaticamente,

independente da vontade do dono.

Há um certo prazer doentio em assitir a dança,

ao mesmo tempo que ao meu lado a mulher

com sua boca murcha pintada de batom vermelho,

fuma um charuto para que a fumaça espante o tédio.

O que persiste são apenas os mesmos e velhos fantasmas,

que finalmente conseguiram extinguir a importância do relógio.

E assim, essa dança persistirá para sempre.

Na penumbra de toda noite,

só posso divisar a barba escura e estranha,

e os velhos óculos que travestem os olhos.

Esse provavelmete é o elemento mais angustiante do salão.

Porque mesmo não estando lá,

é dele que tenho mais medo.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 05/03/2008
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