Nossos ideais
Quem sabe os nossos ideais não se encontrem
Numa esquina, sentados num bar
Rindo e contando sobre si mesmos
Se abraçando e festejando.
Quem sabe, quando dormirmos
Nossos ideais fujam de fininho
E conversem de janela à janela
Usando a linguagem dos sinais.
Quem sabe, quando entristecemos
Nossos ideais não correm para o telefone
E pedem ajuda um ao outro
E confortam-se nas próprias vozes.
Que sabe os nossos ideais não voam por aí
De braços dados, de mentes unidas
De identidades férreas e corações
Tão, mas tão frágeis.
Quem sabe os nossos ideais não escapam
Pelos muros, e escalam janelas
E fazem amor até o tardar
Até que cheguemos para procurá-los.
Quem sabe os nossos ideais não sejam
Crianças abandonadas
Ou amantes desesperadas
Ou mulheress inconsoladas.
Quem sabe os nossos ideais não sejam nossos
Sejam do mundo, sejam vagarosos lavradores
Esperanças sofredoras, conformismos arrebatadores
Um seio de mãe vazio.
Quem sabe os nossos ideais sejam as nossas lágrimas
Os nossos gritos, as nossas mãos erguidas
Os nossos futuros filhos, as nossas preces
Nossos desamparos, nossas tentativas.
Quem sabe nossos ideais...
Quem sabe eles...
Um dia talvez, quem sabe?
Sejam feitos de amor.