Pelo Menos Uma Vez
Quero pelo menos uma vez
Sentir o sossego perturbador
De não sentir uma raiva conformada.
É de um prazer desgostoso
Viver essa violenta paz
Que me sufoca de mentiras sinceras.
Nada abaixo nem acima
Nada rima com esse paradoxo
Longe de ser ortodoxo
Mas muito perto da completa bagunça.
Que pelo menos uma vez
Não sejamos justos com os injustos
Que pelo menos uma vez
Não sentemos a mesa com aqueles
Que deixam comida no prato
E reclamam de barriga cheia
Que o café estava demais açucarado
Quando na verdade é a amargura
Que dá o sabor indigesto a quem os suporta.
Quero pelo menos uma vez
Não respirar o ar impregnado de falsas promessas
Não desconfiar daqueles que me protegem
Não ignorar o que está ao meu redor.
E como não sou hipócrita
Sei que na maioria das vezes
Sou tão errante quanto qualquer um
Mas que num lampejo abro de fato os olhos pra tudo que está diante de mim.
03/03/08