UM POETA PINGANDO SANGUE
escrevo como quem anda como quem respira
os versos não me cabem mais
escapam pelas mãos pelo poros
como sangue de uma veia aberta
deixo rastros no caminho
e vou sozinho pela noite em desalinho
as idéias todas intensas
despenteiam meus pensamentos
vou indo no fluir do vento
desenrosco minhas idéias tortas na estrada reta
faço do meu enredo
meu desatino e destino
sou eu quem ilumino meu obscuro
mesmo assim bato a cara contra o muro
levo murros e chutes
sou expulso do escuro
me querem claro quadrado obtuso
à mostra político polido e preciso
é duro ser poeta e trabalhar com concreto
ser espalhafatoso
e se conter quieto no ensinamento
ter um mundo intenso interno
e ir assim vazando aos poucos
pelas ruas como um dicionário aberto ao vento