Masmorra

Aquele, a quem fez cego a natureza,

Com o bordão palpa, e aos que vêm pergunta...

Ainda se despenha muitas vezes,

E dos remédios junta...

De ser cego e fortuno eu não me queixo,

Sim, me queixo de que má cego seja...

Cego, que nem pergunta, nem apalpa,

É porque errar deseja...

A quem não tem virtudes, nem talentos,

Faz-se de um Cetro dono...

Cria num pobre berço, uma alma digna de se sentar num Trono...

A quem gastar não sabe, nem se anima,

Entrega as grossas chaves de um tesouro...

E lança na miséria a quem conhece para que serve o Ouro...

A quem fere, a quem rouba, a infame deixa

Que atrás do vício em liberdade corra...

Eu amo as leis do império, ela me oprime

Mas sei que nunca estarei sosinho,

Nesta vil masmorra...