REVOLUÇÃO, CONTESTAÇÃO

Estavam todos ali,

tentando entrar,

dizendo que devia abrir.

E veio o poeta escrever

uma longa e profunda poesia

analisando o erro do dono da porta.

E veio o rebelde contestador

dar chutes, jogar pedras

e berrar incitando a multidão.

E veio o estudante

fazer um inteligente discurso

falando da democracia

num microfone instalado

por um outro, cidadão desconhecido.

E vieram o repórter e o fotógrafo

pegaram flagrantes do dono da porta

e fizeram uma longa crítica

e uma grande manchete arrasadora

para o dia seguinte.

E num dia

ouviu-se um barulho de chaves

do lado de dentro da porta.

Ela abriu.

Alguém saiu, sorriu e falou:

- Entrem. Vamos tomar um café.

E cada um então

virou as costas e foi para um lado,

procurando uma porta fechada,

sonhando com uma revolução.

Belo Horizonte / Setembro de 1979

(do livreto BELEZA, registrado na BN/RJ)