Medo de chuva
No bolso
Tem medos escondidos.
Bem lá no fundo eles se mexem.
Toda manhã,
Na hora do café,
Mostram sua cara invisível
Pra estupidez nublada do dia.
O medo,
Molhado de chuva,
Assusta o peito ofegante;
Respinga na fresta na porta;
Isola-me em lençóis úmidos,
E me esconde
Debaixo da mesa.
A chuva tem a sutileza
Do pavor iminente;
Nos pingos,
Ardentes em flor,
Nos raios,
Em gemidos de dor.
Garoa cinza,
Que me torna frio,
Lava a tinta
Do meu rosto toda noite;
E no sono
Da madrugada muda,
Pinta cores novas
No cenário do vazio.