A Terra é uma bolinha de gude nas Mãos de Deus...

Barro vermelho,

Em que meu pensamento escorrega,

Até cair a teus pés, ladeira da minha infância!

Os carros passavam na beirinha da estrada molhada.

Era a lama ou a lama.

Todos eles atolavam!

Aliás, nem Jeep passava,

Só passava caminhão, com correntes nas rodas...

Lá embaixo, ao lado da estrada,

À esquerda, pra quem vinha, no sentido da cidade,

À direita, pra quem ia em direção contrária à cidade,

O abismo!

Fundo, forrado de mata escura, sombrio!...

— “ Se alguém cair lá embaixo e morrer, nem urubu vai lá.”

Sentenciou uma voz de homem, da qual não esqueço...

Barro que a chuva faz...

Chuva que às vezes é cerca,

Não deixa o carro passar,

Não deixa subir a ladeira, porque a estrada é de terra...

A chuva molha e humilha os carros que não são 4X4.

Se precisar voltar para a cidade,

Vou ter de ficar com as goiabas,

Que vim colher pra fazer doce cheiroso e vermelho...

Como colher goiabas

Sem molhar nem resfriar?

Relaxo...

Fico sabendo que o neto de Dona Lia foi para o Japão,

A fim de trabalhar,

E sumiu por lá...

Nem os amigos que foram com ele dão notícias dele.

Sumir é mau sinal.

Pode ser igual ou parecido com morrer...

Coitada de Dona Lia, tão orgulhosa do neto, que lhe enviava fotos

E estava arrumando a vida...

Se aconteceu isto com o neto da Dona Lia,

Que é um santa velhinha rezadeira e benzedeira,

O que dizer do comum dos mortais?...

Um dia, ela me contou que rezava para o neto.

Foi tão bonitinho ela dizer:

— “Reza vai loooongee!... Reza vai até ao Japão!’

Perdeu-se recentemente,

Tenho esperança de que ele apareça,

Esse rapaz brasileiro...

Já o meu amigo Antônio Cambeta, colega de Poesia,

Quando era muito jovem, criou asas e foi morar na Ásia...

Saiu de Portugal e se estabeleceu em Macau.

Deu a maior sorte!

Macau é China,

E China é tão longe quanto o Japão!

Carreira bem sucedida!

Aposentou-se pela Marinha de Macau,

Tem linda família oriental, e leva uma vida alinhada!...

A sorte, quem dá é Deus!

O mundo, que encanta e desencanta,

Que equilibra alguns e enlouquece outros...

É tão vasto para o homem,

E tão pequeno para Deus!...

A Terra é uma bolinha de gude nas mãos de Deus...

Ele rola a bolinha pra lá,

Rola a bolinha pra cá,

E nada foge de Suas Mãos...

Nada.

Nem ninguém!

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 27/02/2008
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