Devoção

Choveu granizo em meu jardim

Todas as melodias logo se calaram

Quando suas mãos se fecharam

Sem tocarem as minhas

E as órbitas celestes entraram em ebulição

Quando de meus olhos

A primeira lágrima caiu

E a solidão me deixou insone

Quando a oração que saía de seus lábios

Não fez Deus ouvir meu nome

E lá se foi mais um dia

Como um conto inacabado

Eu perdida, sozinha em minha sinfonia

Apenas um espelho despedaçado

O mar vaga lento e sem pudor

Irradiando melancolia

Mas seus lábios não me falam de amor

Não é minha sua poesia

Voaram longe as folhas de outono

Já é inverno no verão dos meus desejos

Meu corpo respira ainda sem dono

Pois sua boca não o marca com beijos

E lá se vai a poeira das estrelas

Mas meus sonhos ainda estão presos à gravidade

Sua alma não me escolheu como companhia

Recolho-me, deixando o tempo passar

Entregando-me pura a essa eternidade

Liberte-me dessa espera

Deixe-me sentir...

Os cinco sentidos em alerta

Ao mais imperceptível sinal

Apenas não feche seus olhos

Para o que está ao seu redor

Essa indiferença me é fatal

Quando todos os outros sentimentos me deixam só

Mesmo que me faltem palavras de consolo

Mesmo que esse espírito seja apenas um tolo

É esse calor que irá me aquecer

É essa vida que irá me pertencer...