MISTÉRIOS

O mistérios acompanham-me,

e inundam o meu espaço vital,

avassaladoramente.

Até mesmo pelas portas

que deixo abertas, num convite

a que entrem as verdades

e se derramem pelo chão,

como grama fofa

acarinhando os meus passos.

Mesmo assim me acompanham,

como que a preservar-me

de desilusões, ou do ruir abrupto

de alguns sonhos

que o meu desejo tivesse adocicado

além do plausível ás minhas forças.

Mesmo assim me acompanham,

como se não pudesse divisar além deles,

ou não merecesse saciar-me

com água fresca de verdade,

para que ficasse mais fácil

o meu caminhar.

Mas mesmo assim me acompanham,

esses mistérios de sempre,

sólidos como montanhas de rocha dura.

Como virgens tão empenhadas

na sua extrema virgindade

que o próprio tempo as não deflora.,

deixando-as ocultas aos outros

sob um manto tênue, de pó dourado...

E se os mistérios dos dias

são a pimenta de quaisquer passos,

a iguaria extrema e rara,

a saliva em antecipação

de prazeres sempre imaginados,

são também o espinho hirto,

desagradável como uma espera,

fincando-se abominavelmente

na carne dessa mão

que á vida acaricia

em perpétua novidade.

É a eles que amo,

em sedes maiores que o passo

dos meus passos.

Mas é deles que me canso,

em dúvidas maiores que o traço

dos meus traços...

Fevereiro 2008