SEM BOLINHOS DE BATATA
Rita não ama.
Rita se engana.
Faz bolinhos, salgadinhos,
tira-gostos para acompanhar a cerveja
de quem lhe enche a cara e a barriga, mal.
Rita não age.
Rita se esconde.
Gasta noite, barriga, forno,
o suor dos olhos claros para não dormir
com quem comeu e, agora, ronca meio farto.
Rita não trama.
Rita é ingenuidade!
Protegida, em casa, na calma,
desfia novelos de lã de dia para justificar
que o sangue não vem dos dedos de costurar.
Rita não peca.
Rita é só santidade!
Casada, não beija de boca aberta,
faz silêncio de viuva, congela a língua
que faz mímica para o céu-da-boca sem afta.
Rita tem filhos.
Rita tem saudade!
Deixa queimar bolinhos de batata,
se desgasta nas tarefas do dia a dia
para provocar nele, cansado, mais impaciência.
Faz pirão de leite, pra peixe
Faz feijão, farofa e arroz tropeiro
Faz carne de panela com batatinhas
Faz cuscuz de leite com mandioquinha
Rita saiu de casa,
Rita foi só para a feira
E jamais voltou à cozinha.