JUNTOS, BEM MELHOR QUE SEPARADOS
Um dia,
imaginei que a solidão e a noite
fossem cúmplices egoístas
do sono sem imaginação.
Vi, um dia,
a manhã despertar na rua vazia
como se a palidez do lençol
para o nada me acordasse.
Sem o traçado de olhos
que, visivelmente, me olhariam,
acordava envolto no meu calor próprio
tão egoísta quanto o silencio do dia a dia.
Sem o trançado das pernas,
que, maldosamente, pediriam pecar,
despertava excitado no sonho dos viúvos
tão frustrante quanto os priapismos noturnos.
Sem o tropeço dos cochilos,
que, fatalmente, recostariam no cansaço,
um relógio se perdia às dez da longa manhã
negando a essência da criação dos despertadores.
Um dia,
a cama se rebelou contra a burocracia
da faxina, do pó, da farra e da mesmice.
Percebi, um dia,
o calar de todas as luzes artificiais,
uma cama de solteiro
cobrando um corpo casado
que se nega, agora, a dormir.