FOLGUEDO

Tem cana no moedor

queimando amor e melaço

Tem bicho-de-pé, sertão

tem mormaço, sol e mormaço

Tem ciranda rica de chão

na roda, no rola e gira: volta pião!

Cavalo-marinho,

faz mesuras pro Damião,

o compadre destemido, sem medo das carpideiras.

Tem meninas no roçado

trepadas no bicho-do-araça

Tem fruta-pão pelos campos

tem bicho-de-pé, pé descalço

Tem terra quente a queimar

na sola, no solo, no solado chão!

Cavalo-marinho

porta o estandarte de Zefa,

a comadre de voz solta, sem medo de rouquidão

Tem banho de rio pelado

tem sombra para a nudez

Tem água-viva na bananeira

queimadas da goela ao mar

Tem cachaça e fumo de corda

pra arder, pra beber, pra tragar!

Cavalo-marinho,

leva os poetas para a praça,

falarem até o duo*fazer bico do conto do boi-bonito.

Tem banho de cheiro, folguedo,

dia primeiro de um janeiro

Tem a data marcada por um Deus

para o sol, enfim, se esturricar

Tem palma ralada e mandioca,

calos calados de mãos a rezar!

Cavalo-marinho,

do pau-da-rola à porta da bodega,

deixa o pau-de-arara partir só e cheio voltar!

* a palavra "duo" foi inserida neste poema apenas para poder ser publicado