Desforra

Desforra

maria da graça almeida

Irei deixar-me lá fora,

lá fora há luas e sóis.

Vespertina e por desforra,

brilharei nos arrebóis.

Pinçarei corpos humanos,

no sangue de todo mês,

vetarei votos insanos

de sacerdotes e freis.

Irei largar-me lá fora,

na nudez dos arrebóis.

Vespertina e por desforra,

refletirei sete sóis.

Viverei catorze anos,

na tez de monarca e reis,

sepultarei desenganos

onde nunca hei de nascer.

Irei deixar-me lá fora,

lá fora há luas e sóis.

Vespertina e por desforra,

brilharei nos arrebóis.

Atenuarei os meus danos,

contando-os de três em três,

renascerei tibetano,

vivendo pra não morrer

Irei largar-me lá fora,

na nudez dos arrebóis.

Vespertina e por desforra,

refletirei vários sóis .

Sob a voz de um saltimbanco,

farei o que o poeta fez.

Sepultarei versos mancos

em covas "nove-por-seis".

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 30/03/2005
Reeditado em 31/03/2005
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