Provedores de chuva
Deixe que essas lembranças se despedacem em gotas de chuva
Trazendo à tona, maremotos, cataclismas, solidão...
Vendavais de águas-vivas, mergulhando em imensidão
Enigmáticas visões, eu lutei até o fim
Se essa água salvar meu velho espírito
E fizer essas criaturas do mar caminharem comigo
Eu voltarei a acreditar...
Páginas da vida embebidas em lágrimas
Uma fonte seca, um poço sem desejos
Eu esperarei a mais perfeita monção
Para navegar nesse vasto rio de ilusão
Eu me criei nesse deserto de alucinações
Conheci as mãos que fornecem a chuva
Perdendo-me em devaneios tolos, fantasias
Até me afogar na correnteza que me trouxe até aqui
Deixe que eu encontre a mais pura sintonia das ondas
Trancando minha alma nesse jardim de flores condenadas
Lutando contra minha histérica vulnerabilidade
Minhas pétalas esperam para serem abençoadas
Uma chuva de surpresas cairá sobre minha pele envenenada...
Se essas dúvidas proverem minhas certezas
E trouxerem o consolo de uma vã emoção
Eu voltarei a acreditar...
Cinco sentidos mortalmente inundados
Por cinzas nascidas de uma chama fugaz
Um torpor sobrevive nesta alma, eu sei
Lutando contra uma vida mordaz
Provedores de chuva testeminharão minhas tristezas sem resquício
Conduzindo-me a morrer neste doce sacrifício...