eclipse
Dia após dia
Vivenciamos eclipses
Do sol com a lua
Da lua com a sombra
Da água com a terra
Da mágoa com o amor
Despedaça-me por dentro
As punhaladas repetidas que
Esmagam a esperança,
Vedam as janelas e portas e
Abrem o gás.
Dia após dia
Vivenciamos eclipses
Paradoxais
Da individualidade com a sociedade
Do estilo com a simplicidade
Do verão com o inverno
Do outono com a primavera
Interseções marcantes a nitidamente
A revelar dois mundos,
Dois segundos,
A dispensar a lógica e a metafísica
A dispensar o compasso da música
E ficar remoendo letras
De uma vereda um furacão aparece
De uma folha a fotossíntese enternece
Todo um jardim
Florido das emoções,
Riscados por medos,
Rasuras e garatujas
Desafiam minha compreensão banal
E prosaica
Ao limite de dor suportável pelos escravos
Meus pés no chão descarregam a eletricidade
Que percorre meu corpo, minha alma,
Espalha-se pela sombra
E continua nos meus pensamentos
o tempo faz elipse com o espaço
a dor faz elipse com a vida
a morte faz elipse com a eternidade
quem se salvará nesse turbilhão
de angústias e mágoas
eclipsadas pela esperança de se encontrar,
de encostar e, simplesmente
esperar por mais um eclipse