PARADOXOS
1. O anjo rebelado avança o carro
através dos portões do Apocalipse
3. Percebes o erro?
o fogo espalha as cores vocais dos jasmins
jamais deveriamos ter amado
a Rainha das Ciências
com a sofreguidão dos cães
jamais
9. Os tambores ribombam um frenesi de lentidão
canibalismo e poder
dor infinita
loucura sem limites
mentira e solidão
14. o reino do lirismo esfacelado
sob os golpes do machado da vampiralha cibernética
16. Crianças gritam socorros absurdos
na carnificina dos costumes
até a miséria tem regras e critérios
19. náufrago
grito desaforos aos deuses
e às vezes
morro soterrado
pelas batucadas
24. Atravessei as dissolvidas muralhas
no meu passo cambaleante
estupidamente assassinado
pela mediocridade do instante
28. Estou seguindo a ave do Poente
mergulhar no vazio cujo retorno é música além da vida,
e prossigo marcado pelo desterro
e pelas reverências ao Poder,
rei apenas das flores que enfeitam meu leito
33. Amor, prepare-se
não há escalas na morte
ou você prefere beber
da mediocridade
deste insuperável presente?
38. Me dê a mão
vamos gozar a alegria de viver
sobre a miséria dos povos
41. O vazio existencial é atração turística
ou não? ou não? ou não? ou não?
43. O doloroso vazio das ruínas
nada revela
senão a dúvida
46. O crime é soberano
numa terra dominada pelo sol
48. Teu amor à morte
só não é maior
do que amor à fome
pois é o flagelo
teu ascendente
53. Época há
de sobreviver
e alimentar a fúria