Suas palavras
Euna Britto de Oliveira
Não gôndola, gôngora.
Foi o que entendi.
E o que viria a ser gôngora?...
Nem Gratia plena nem o canto gregoriano.
Sem música, a criança gangorra no parque.
Cada dia traz implícita
As providências da vida.
A felicidade é desdobrável como um lençol.
Vão surgindo quadros
Dentro dos limites do lençol,
Dentro dos limites do tempo...
Por causa dela, existem os templos,
Para que aconteça, para que aumente, para que seja preservada,
Para que continue...
Porque há uma notícia de que os homens não se acabam aqui,
E todos querem ver Deus e sua glória
E levar-lhe suas obras
Para, enfim, todo mundo ser só feliz,
Só feliz, eternamente!...
Por causa dos imóveis, movem-se, incontáveis, os homens.
Há quem queira abraçar o mundo com as pernas.
É inconteste o conforto do ninho.
Aninham-se em meu peito um desejo e uma certeza:
Um lugar nunca será meu lugar,
Mesmo que compre e pague,
Mesmo que seja meu de nome ou de escritura passada.
Nada é realmente meu,
Nada é realmente de ninguém,
Tudo é emprestado
Para desfrutarmos por algum tempo...
Movem-se céus e terra,
Mas Suas palavras, não.