INFÂNCIA
Minha infância
já vai longe
quando brincávamos de bola de meia
no campo riscado na rua de terra
eu Leão, ele Toninho Guerreiro,
eu Rivelino, ele Pelé,
eu marquei o gol, ele, passou por cima da trave
e por cima da trave
passou a nossa infância.
Eu Zorro, ele Durango Kid, ela mais charmosa que Penélope
eu Batman, ele Robin, ela Mulher Gato
eu Super Homem, ele Homem Aranha, ela Mulher Maravilha
e nas teias da aranha
ficou presa a nossa infância.
O homem do sorvete,
o homem do biju,
o homem da verdura,
o homem do carrinho de carne,
o homem dos bois que iam para o matadouro
que iam cabisbaixo para o sacrifício
e nós corríamos de medo
e pela fresta da janela
olhávamos os bois passarem,
os homens passaram
os bois passaram
a nossa infância passou.
Brincávamos de carrinho
o carrinho, lata de óleo
as rodas, tampinhas de refrigerantes
a boneca, espiga de milho
o trenzinho, carretéis de linha,
piuí, piuí, piuí...
lá vem o trem, lá vem o trem, lá vem o trem...
piuí, piuí, piuí...
lá vai o trem, lá vai o trem, lá vai o trem...
e junto com o trem
foi a nossa infância.