O FAZEDOR DE BALÕES
João, meu querido amigo,
desculpe-me.
Está politicamente impossível,
daqui, poder lhe devolver estrelas.
O progresso, amigo,
como dizia Quirino
ao atacar a sete baixos:
— É fogo no fole da jabiraca!
Ninguém mais daqui tem coragem
de abrir portas nem na calçada, cadeiras;
de mostrar a filha donzela a um desconhecido
(mesmo que donzela não seja);
de deixar amendoins, pamonhas, canjicas, aipins,
milhos, bolos e licores sobre a mesa
(mesmo que comida e bebida lhes falte);
de estourar rojões, busca-pés, bombas, traques-de-massa
só para os meninos
(eternos desconhecedores da má índole);
de brincar de faca-na-bananeira, de quadrilha, de passa-anel
só com meninas
(ingênuas e conscientes)
de que a barba precoce era aquecida a rolha
e que os remendos da calça eram panos falsos.
O progresso, amigo,
como diria Inácio
ao marcar num grito de pulmão:
— Anarriê! É mais ruim que jiló!
Ninguém mais sabe fazer cola de farinha,
nem cortar papéis-crepons sem régua
(oito, dez, doze, vinte quatro)
gomos para serem tocados
com todo cuidado
quando chega a bucha de querosene
até inchar completamente o balão
ao sabor do Deus do vento!
João, meu querido amigo,
desculpe-me.
Está politicamente impossível
daqui, poder lhe devolver estrelas.
O progresso, amigo,
fez este fazedor de balões
deixar de ser recador de Deus!