POEMA AO AMIGO INESPERADO
vem, amigo que chora,
aprochegue-se só na hora
em que for constatada a morte do seu choro;
enterre-o do lado de fora
esfregue os pés no capacho
e, se não tiver vontade, não sorria!
Pode entrar.
em nenhum momento tive intenção de agredi-lo,
amigo que já não mais chora,
ao descerrar-lhe a persiana abre-e-fecha,
ao apresentar-lhe a patroa jeitosa, caseira, carinhosa,
despreocupada com a existência do desamor...
Desculpe-me, amigo,
expor-lhe ante tamanha felicidade!
A nossa casa é colo.
quero que se sinta tão abraçado
quanto naqueles momentos em que eu,
sozinho de amor,
procurava-o para pura conversa fiada.
O quarto de visita, pequenino,
de tamanho suficiente para sua solidão,
abre sua única porta para a chegada
das suas mãos vazias.
Pode ficar.
só não traga más lembranças
das amargas lágrimas recém-secadas
pelo capacho na soleira da porta de entrada;
e se, por acaso,
ouvir, no meio de noite, risos, arfares ou deboches,
tente dormir, mesmo só!