MENGIDOS-DO-AMOR-DE-RUA

em paz,

quase originais,

acordaram fazendo a paixão arder

como se jamais ela estivesse despertado

para a suavidade;

juntos despiram-se

até nua ficar a cidade, já clara e já sem luzes,

envergonhada pelos mendigos-do-amor-de-rua

que tropeçam cegos de noite na quentura homem-mulher

cada vez mais, na sarjeta...

em paz,

quase originais,

homens retornam aos seus rumos: voltam para casa

como se nunca tivessem vivido os idos da cidade;

mulheres esperançam-se a cada parada dos ônibus,

onde a calça jeans roça na bunda da saia

com tanta humanidade

que o inferno do dia-a-dia aos poucos fica ausente

cada vez mais, dos lares...

em paz,

quase originais,

abraçaram-se como mendigos sem claridade

pela cidade vazia de amores cotidianos

indiferentes aos casais românticos saídos do cinema;

e ardem, e ardem, e ardem 4anto,

em tanta paz,

que juntos, de tão juntos,

mora um sentimento de indissolubilidade

tão comum ao par acasalado,

apesar da paixão em estado de passado

ou na completude deste amor absurdo.

Ainda ardem, ardem, e como ardem

os inseparáveis amantes,

juntos, no inferno humano,

aparentemente em paz.