CORRUPIXEL
seu colo de corrupixel
aparava caroços de jacas e araçás,
nódoas de cajus
sobre a chita chinfrim
da roupa quase esgarçada
pala barriga cheia de farinha-vida, carregada...
seu colo de corrupixel,
aparava amargos, azedos, doces,
travos chinfrins
da saliva de mandacaru
molhado na seca de um rio
que fez cara salgada pro mar,
onde as solas dos pés deitam de pé
pr’um filete do filho encravado na bolha
da coxa da restinga: barriga d’água da enchente...
seu colo de corrupixel,
cansado de aparar açaís secos,
distancia os joelhos, já, separados
por légua e meia de chita manchada
— há um rio novo no leito das coxas —
pelo cajueiro, pelo umbuzeiro, pela mangabeira, pelo araçazeiro!
Chamem, já, Maria Paradeira!
Mesmo que seja muito tarde,
ela pedirá para que Nossa Senhora do Bom-Parto
traga boa-sombra
àquele que virá,
para dividir a pouca carne-de-sol...
Salvem a rainha dos céus
que chorou no chão para os frutos
enodoarem a saia de chita feita à mão
e proteger, e sombrear a semente vingada.
Salve Maria Paradeira,
e seus braços de corrupixel!