QUINTO ANDAR
o amor não nasceu no quinto andar!
Mas é no quinto andar,
onde,
o apartamento está montado
prontinho para continuar a revelar
histórias desse amor construindo degraus;
ele,
coitadinho,
nascido tão mirradinho,
num porão qualquer de nós,
confundido entre choros e cuidados,
engatinhou até andar, por nós, acompanhado.
Mas o mundo não nasce num quinto andar!
Abaixo do quinto, há o quarto
onde a solidão,
uma velha amiga,
resolveu dar cabo, impiedosamente, da vida;
abaixo do quarto, há o terceiro,
onde a tristeza,
outra amiga de infância,
resolveu um dia, inesperadamente, rir à-toa;
abaixo do terceiro, há o segundo,
onde a angustia,
amiga das cortinas fechadas,
resolveu sair para comprar cigarros e fumar;
abaixo do segundo, há o primeiro,
onde a ansiedade,
amiga das horas quase paradas,
resolveu ler e dar um basta na impaciência.
E, do primeiro ao chão,
eis-nos aqui no solo-abrigo,
sem deixar que a paixão nos suba à cabeça
nem que os sonhos batam asas acima do teto do céu,
para que o amor não pare de crescer em nosso quinto andar:
que se erga o sexto,
o sétimo, o oitavo, o nono, o décimo... o centésimo,
o dois milésimo terceiro espaço, por enquanto,
para que o amor nunca pare de visitar
os moradores do quinto andar.