CRÓNICA DO ANO VELHO
E DO ANO NOVO
Eis que me vejo de pé entre os dois calendários,
vigia, sentinela ou outra coisa assim...
O ano que passou é uma cicatriz indelével
gravada a fogo no dorso do tempo.
Ninguém poderá arrancá-lo da nossa
maneira de estar aqui.
Ninguém apagará o ano velho
da sebenta da História.
Ninguém poderá torcer o seu percurso
a não ser os minutos que ainda faltam.
No entanto os répteis espreitam
um último assalto
ao que resta de Abril no seu bornal!
Por isso estou eu aqui, de pé, vigilante,
para ninguém lançar mais excrementos
na face enrugada deste ano que se esvai.
Por isso estou aqui, vigilante,
abrindo a janela de par em par,
dando entrada ao temporal de minutos
que arrasta, em turbilhão,
o ano novo
papel branco a esvoaçar,
onde o antigo ano rascunhou
alguns recados inadiáveis:
bocas em crise, cravos murchos nos lábios,
reforma agrária sangrando papoilas de antigamente,
mãos sem martelo, fábricas sem fumo,
um povo inteiro a dormir ao relento.
(Afinal,
a estrela de Belém
era um buraco no tecto da cabana!)
Por isso aqui estou de mãos abertas,
atando as minhas mãos a outras mãos,
tantas que cheguem para acalentar
o ano-menino que de nós virá.
Por isso, de pé, juramos,
em nome do novo ano,
que o Sol nascerá sempre
ao fim de cada noite.
Em nome do novo ano
nós juramos
que o trigo e as vinhas frutificarão.
Em nome do novo ano
nós juramos
que os répteis não passarão.
(Primeira badalada...)
Desculpem, estão a chamar por mim
do outro lado da meia-noite.
Alerta estááááááááá!
E DO ANO NOVO
Eis que me vejo de pé entre os dois calendários,
vigia, sentinela ou outra coisa assim...
O ano que passou é uma cicatriz indelével
gravada a fogo no dorso do tempo.
Ninguém poderá arrancá-lo da nossa
maneira de estar aqui.
Ninguém apagará o ano velho
da sebenta da História.
Ninguém poderá torcer o seu percurso
a não ser os minutos que ainda faltam.
No entanto os répteis espreitam
um último assalto
ao que resta de Abril no seu bornal!
Por isso estou eu aqui, de pé, vigilante,
para ninguém lançar mais excrementos
na face enrugada deste ano que se esvai.
Por isso estou aqui, vigilante,
abrindo a janela de par em par,
dando entrada ao temporal de minutos
que arrasta, em turbilhão,
o ano novo
papel branco a esvoaçar,
onde o antigo ano rascunhou
alguns recados inadiáveis:
bocas em crise, cravos murchos nos lábios,
reforma agrária sangrando papoilas de antigamente,
mãos sem martelo, fábricas sem fumo,
um povo inteiro a dormir ao relento.
(Afinal,
a estrela de Belém
era um buraco no tecto da cabana!)
Por isso aqui estou de mãos abertas,
atando as minhas mãos a outras mãos,
tantas que cheguem para acalentar
o ano-menino que de nós virá.
Por isso, de pé, juramos,
em nome do novo ano,
que o Sol nascerá sempre
ao fim de cada noite.
Em nome do novo ano
nós juramos
que o trigo e as vinhas frutificarão.
Em nome do novo ano
nós juramos
que os répteis não passarão.
(Primeira badalada...)
Desculpem, estão a chamar por mim
do outro lado da meia-noite.
Alerta estááááááááá!