A última fábula

E se essa angústia durar mais que uma estação?

E se a vida for mais breve que a dor?

Seremos exilados das lembranças mais sutis

Desencantados nessa última fábula de amor

E se a chuva lentamente virar lágrimas?

E se o visgo nascer dessas horas mórbidas?

Fecharemos o livro antes do fim do conto

Não viveremos essas promessas tórridas

Cicatrizes antigas nunca deixam de sangrar

Afogue-se no mar da virtude e deixe-se salvar

Há uma charada perdida em seu coração

Aquela que abrirá a porta da sabedoria

Sua inocência é o que levaremos após a morte

E a fábula que eu conto, indicará minha própria sorte

E se essa mágica for desvendada?

E se a ilusão não mais existir?

Condene-me à mais pragmática astenia

Dessa vida vã, eu prefiro desistir

Sonhos antigos morrem antes do amanhecer

Deixando em sua mente apenas a escuridão

Em meu âmago eu sinto a alma entorpecer

Afogando-me no veneno, curando meu coração

Espere o amanhecer para descobrir

Que há escolha nesse fim, perdido por um triz

Desilusão, infâmia, crueldade

Encontre-me só, onde eu puder ser feliz.