Tempo Perdido

Naqueles olhos percebi o medo
de ter chegado tarde.
Olhos de alarde
que denunciavam o cedo,
como coisa perdida
e livre de resgate.
Também tinham um quê
sem porque,
de coisa não vivida
de final em empate.
Aqueles olhos bradavam
não mais gritavam,
saltavam das órbitas
como querendo invadir
o espaço de outro planeta.
Queriam eles consumir
a ocasião mórbida
do tempo perdido
da espera insana
dos minutos sem sentido
ao contrariar um capricho
que a alma clama.
Olhos atordoados
como angústia de um bicho
rondando a presa,
fugindo apressado
já que esteve tão perto
de um bote certo.
Esses olhos sofredores,
não os vejo com pena,
mas com o desgosto
de quem olha o relógio
esse algóz tão exposto
que controla o mundo
com ponteiros articulados
que não param nunca,
nem por um segundo
a marcar com precisão
o tempo que caiu ao vão.