ESPIRAL

Hoje estão sossegadas, as memórias.

Como se fatigadas

de tanto as perseguir,

incansável.

Fui inclemente com elas

em todos os cantos onde nos cruzamos,

desconfiados...

Olhei-as nos olhos,

e sondei seus poços de silêncio,

inquieto.

Gritei, de mãos em concha,

e responderam zangadas,

ásperas.

Mirei-me nos seus espelhos

e perdi-me nos seus gritos,

inconfidente.

Contei-lhes tudo.

e aumentei-as de mim,

exponencialmente.

Agora pesam-me

como se gravadas em tábuas,

como leis.

Mas dilacerei-lhes o sagrado

e esqueci promessas antigas,

negando-lhes a eternidade.

Ajustei-as com a vontade

soberana do que quero lembrar,

num outro porvir.

Escolhi-me um pouco ao lado

do que quase foi meu destino,

numa outra espiral de mim.

Indizível !

Fevereiro 2008